Carregamos uma ilusão de que caber no lugar de boa menina que o sistema nos empurra a ocupar, irá nos proteger e "preencher", suprir nosso desejo.
Nos frustramos, pois, este papel no final das contas, nos deixa ainda mais em risco e "esvaziadas" de nós mesmas.
O sintoma por vezes, denuncia que o desejo está calado, suprimido, silenciado.
Nos questionamos: "Não me prometeram plenitude e felicidade se eu seguisse o roteiro para ser uma boa menina? De onde vem então essa angústia, esta tristeza, pânico...?"
"Criam um roteiro de "boa menina", aprovada pelo patriarcado (a ilusão da aprovação na verdade, pois fazendo tudo que mandam, ainda seremos reprovadas e culpabilizadas pelo sistema). Ser boazinha, "não causar problemas", não gerar demandas, dedicar-se a aparência custe o que custar para se encaixar em um padrão (também ilusório, pois está em constante mudança para que você passe toda sua vida tentando se encaixar nele), ser educada (e não demonstrar raiva né, é claro), ser simpática (até com quem te violenta), casar, ter filhos, ter um emprego, mas que não ocupe muito espaço em sua vida, para que não "desfoque" a atenção do casamento, pois uma mulher que se preocupa demais com o trabalho, com a carreira, que quer ganhar dinheiro, é acusada de ter a energia masculina acentuada que levará ao fracasso de suas relações. Este, com muitos outros comportamentos é o roteiro que se impõe às mulheres para serem aceitas neste sistema. As que não o seguem são punidas, tentamos seguir para evitar punição, acreditamos que estamos protegidas por isto, mas estamos ainda mais em risco. Ainda mais vulneráveis a violência masculina.
Tentamos por muito tempo fazer com que nosso desejo se encaixe em todo este roteiro. Nos prometem que ele nos trará felicidade, mas quando nós percebemos estamos tristes, com enorme angústia, depressão, ansiedade, crises de pânico, entre outros sintomas. Tentando encontrar a prometida plenitude, tentando reprimir nossos desejos, suprimir nossa existência para caber em um roteiro. Mas não nos satisfaz (ainda bem). O sintoma e a insatisfação denunciam!
Temos medo de romper com a imposição do outro sobre nós. De bancar nosso desejo, de nos aproximar de uma existência mais autêntica. É preciso sustentar, isto gera medo, é o desconhecido. Tendemos muitas vezes a buscar permanecer em nossa zona de conforto, que nos gera sofrimento, mas é o conhecido.
É preciso arriscar, sustentar, ser mal vista, para existir efetivamente!
O sintoma por vezes, denuncia que o desejo está calado, suprimido, silenciado.
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- Hismênia Vidal Xavier é psicóloga, Supervisora Clínica/Psicanalista/Especialista em Saúde Mental. CRP 11/10421
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