De 9 a 12 de outubro, festival reúne nomes como Fania Oz-Salzberger, Eva Illouz, Rutu Modan, Jennifer Teege, Scholastique Mukasonga, Laerte Coutinho, Julian Fuks e Felipe Poroger para refletir sobre memória, literatura e construção coletiva da verdade.
A edição é guiada pela pergunta “Emet: A verdade tem começo, meio e fim?”, inspirada na tradição judaica. Em hebraico, a palavra “verdade” (emet, אמת) é formada por letras que simbolizam o início, o meio e o fim do alfabeto, evocando uma visão de continuidade e solidez. Já a “mentira” (sheker, שקר), composta por letras instáveis e sucessivas, representa fragilidade. Nos textos do Talmud e do Midrash, a verdade se constrói coletivamente, em debate e diálogo, e nunca como única revelação.
Entre os destaques internacionais, a escritora e historiadora israelense Fania Oz-Salzberger chega ao Brasil a convite do Instituto Brasil-Israel (IBI) e do MUJ. Autora de Os Judeus e as Palavras, escrito em parceria com seu pai, o romancista Amós Oz, Fania defende que a continuidade do povo judeu se ancora na relação com os textos, a tradição escrita e o debate intelectual.
No âmbito do Ano da França no Brasil, o festival recebe a socióloga franco-israelense Eva Illouz, professora da Universidade Hebraica de Jerusalém e da Escola de Estudos Avançados em Paris, além de autora de 8 de outubro: genealogia de um ódio virtuoso. Também parte da temporada Brasil-França a escritora franco-ruandesa Scholastique Mukasonga, vencedora do Prêmio Renaudot, conhecida por obras como A mulher de pés descalços (2017), Nossa Senhora do Nilo (2017) e Baratas (2018) se junta a Carlos Reiss, coordenador-geral do Museu do Holocausto, em reflexão sobre o valor do testemunho e os caminhos de responsabilização, reparação e cura diante de episódios traumáticos.
Outra presença aguardada é a da quadrinista israelense Rutu Modan, autora de álbuns premiados como A Propriedade (2015) e do recém-lançado Túneis (2024), publicados no Brasil pela WMF Martins Fontes. Em seus quadrinhos, Rutu explora com humor e sutileza as tensões do cotidiano israelense. No FliMUJ, ela se encontra com a cartunista brasileira Laerte Coutinho para uma conversa sobre como sátira, ilustração e ironia podem iluminar debates sobre política, identidade e liberdade.
Também integra a programação, a convite do Goethe-Institut, a escritora alemã de ascendência nigeriana Jennifer Teege, conhecida pela autobiografia Amon: Meu Avô Teria Me Executado. No livro, ela relata o impacto de descobrir ser neta de Amon Göth, comandante nazista retratado em A Lista de Schindler. No festival, dialoga com o escritor André de Leones, autor de Meu passado nazista, sobre como o extremismo pode estar mais próximo do que imaginamos — e como ideologias que julgávamos superadas podem ressurgir nos lugares mais inesperados.
A cena brasileira também marca presença de peso: Carol Rodrigues e Felipe Poroger, autor de Alguém sobrevive nesta história (2025), conversam sobre as experiências da geração que cresceu nos anos 1990. Já o premiado Julian Fuks, vencedor do Jabuti com A Resistência (2015), divide mesa com a escritora e pesquisadora Tatiana Salem Levy, autora de A Chave de Casa, em debate mediado por Rita Palmeira.
Completam a programação nomes como Alessandra Orofino, Leonardo Avritzer, Priscila Sztejnman e Renato Nogueira, que trarão olhares diversos para questões urgentes da contemporaneidade.
O acesso às mesas do FliMUJ é gratuito, mas as vagas são limitadas. Os ingressos devem ser retirados antecipadamente, pelo do site Museu Judaico de São Paulo. Caso os ingressos tenham se esgotado online, ainda será possível tentar uma vaga na fila de espera, no local.