ASSOCIAÇÃO DE PROFISSIONAIS DO AUDIOVISUAL NEGRO REUNIDOS EM PALMAS

CULTURA NEGRA - Encontro Regional da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro - APAN mobiliza profissionais negros e fortalece o audiovisual no Tocantins

Com participação de 15 membros da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro – APAN, o encontro realizado em Palmas, nos dias 19, 20, 21, 22 e 23 de maio, tratou de diversos temas. A ideia é romper apagamentos históricos, construir redes de fortalecimento e impulsionar políticas públicas para o setor no estado

O cenário do audiovisual no Tocantins carrega, historicamente, desafios que se cruzam com desigualdades estruturais, raciais e territoriais. A ausência de políticas públicas específicas, de espaços de formação técnica e de fomento consistente impacta diretamente a presença negra no setor. O Encontro Regional da APAN – Associação de Profissionais do Audiovisual Negro é uma ação importantes para estimular a união. mobilizar, formar de redes e construir estratégias coletivas no Estado.

A atividade no Tocantins acontece em um território marcado pela diversidade cultural — de comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas e afrodescendentes — que, apesar de sua potência, segue sub-representado e muitas vezes estereotipado nas produções audiovisuais tradicionais.

Mesmo que avanços tenham ocorrido nos últimos anos, especialmente com as políticas emergenciais como a Lei Aldir Blanc e a Lei Paulo Gustavo, que proporcionaram um aumento na produção de filmes, os desafios permanecem. Esses recursos, fundamentais, não vieram acompanhados de políticas permanentes que garantam continuidade, formação e difusão para os profissionais negros do estado.

Laynara Rafaela, associada da APAN e uma das vozes que provoca a articulação local, e expõe a falta de infraestrutura, de coletivos organizados e de instituições voltadas ao setor impede a consolidação de um movimento forte no audiovisual negro do Tocantins.

“O encontro chega para romper com esse ciclo de isolamento. Ele nos tira da invisibilidade e nos fortalece como coletivo, para podermos disputar espaços, construir narrativas nossas e, principalmente, acessar políticas públicas de forma estruturada”, afirma.

A dificuldade de acessar formação dentro do próprio Estado é uma das barreiras mais gritantes. Grande parte dos profissionais precisa buscar qualificação fora do Tocantins — o que, muitas vezes, torna inviável a permanência na carreira, especialmente para pessoas negras, indígenas e de comunidades tradicionais.

“O que vemos é uma dupla marginalização: por sermos do Norte e por sermos negros. Isso limita nosso acesso não só a recursos, mas também a redes, visibilidade e circulação das nossas obras”, explica.

Quando o Tocantins aparece nas telas, muitas vezes é de forma caricata ou limitada a paisagens naturais, como o Jalapão, sem aprofundar as questões sociais, culturais e raciais que atravessam o território. “Nossa história vai muito além disso. É urgente que nossas narrativas sejam contadas por nós, e que possamos disputar esses espaços de produção e decisão”, pontua.

O fortalecimento de coletivos negros e indígenas é uma das respostas mais potentes a esse cenário. A partir do Encontro Regional, nasce um movimento articulado no estado cuja missão é criar ambientes de apoio, formação, troca de experiências e construção de estratégias para que o audiovisual negro do Tocantins não apenas exista, mas prospere.

“O legado que esse encontro deixa é muito potente. Ele mostra que o audiovisual não é um lugar inacessível para nós. Ele é possível, e possível de ser construído de forma coletiva, a partir das nossas histórias, das nossas experiências e dos nossos territórios”, conclui Laynara.

A atuação da APAN no Tocantins se consolida, assim, como uma ação fundamental para romper com o isolamento histórico da região no cenário audiovisual brasileiro, abrindo caminhos para uma nova geração de cineastas, roteiristas, produtores e realizadores negros, que começam, a partir de agora, a reescrever a história do cinema no estado.

Sobre a Associação de Profissionais do Audiovisual Negro

A Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) é uma organização brasileira que atua no fortalecimento de profissionais negros no setor audiovisual. Fundada em 2016, a entidade promove formações, laboratórios, festivais, redes de apoio e ações de incidência política com foco na equidade racial, democratização do acesso aos meios de produção cultural e valorização das narrativas negras. A APAN é hoje uma das principais referências em audiovisual negro no Brasil e na América Latina.