AOS 70 ANOS MARIA DE FÁTIMA SE TORNA FAROL, MANIFESTO E LIÇÃO AO DEFENDER SEU TCC

Aos 70 anos, dona Maria de Fátima transforma seu TCC em manifesto de esperança e homenageia todas as Marias e Josés que a vida não deixou estudar.

Há poucos dias, quinta-feira, 13 de novembro, no Auditório Babaçu do CEHS/UFNT/ Tocantinópolis, o tempo parou para assistir a um daqueles momentos raros, em que a vida em sua forma mais pura, vence todas as estatísticas. Aos 70 anos de idade, a admirável Maria de Fátima Abade Barbosa adentrou cantarolando Catolé (uma canção cearense do folclore nordestino), altiva, com seus apetrechos do trabalho diário. Em seguida, desfilou ao som de Maria, Maria de Milton Nascimento, não apenas para defender seu Trabalho de Conclusão de Curso, mas para reivindicar seu próprio destino, escrevendo com firmeza o capítulo que lhe faltava. E tocou saxofone...

Sob a orientação da professora Iara Rodrigues, Dona Fátima apresentou o trabalho que resume a sua travessia: “Nunca é Tarde para Aprender”. E, ao pronunciar essas palavras, ela não defendia um TCC, defendia a história de gerações inteiras.

Filha de quebradeira de coco babaçu, mulher negra, camponesa, herdeira de uma ancestralidade feita de luta, silêncio e mãos calejadas, dona Fátima transformou seu memorial num canto de resistência e reexistência. Suas páginas não cabem em textos... são chão, memória, floresta, suor, reza, força. São mulheres do Bico do Papagaio, do Tocantins do Brasil profundo, Brasil que insiste, Brasil que existe.

A emocionada e privilegiada banca examinadora, composta pelas professoras Lindiane de Santana e Mara Pereira da Silva, não conteve a emoção ao reconhecer a grandeza daquele momento. Não era apenas um trabalho acadêmico: era um documento histórico, uma oferenda à educação, um gesto de liberdade tardia. A história viva nascendo ao alcance dos olhares de quem estava lá. 

Ao erguer seu TCC /Conclusão de Curso de Licenciatura em Educação do Campo – Artes, da Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT), Dona Fátima ergueu junto todas as Marias que não puderam estudar porque o trabalho veio antes do sonho; todos os Josés que precisaram crescer depressa demais; todos os brasileiros cuja escola ficou pelo caminho porque a vida não foi fácil.

E ali, naquele auditório, sob o olhar de familiares e da juventude dona Fátima lembrou ao mundo que o tempo não é inimigo é parceiro de quem não desiste. Viva! Tim-Tim.

Em tempo: O curso de Licenciatura em Educação do Campo – Artes, do Centro de Educação, Humanidades e Saúde (CEHS), tem duração de quatro anos e o objetivo de formar educadores que tenham atenção especial à cultura, às lutas sociais e, principalmente, à realidade do campo.